A ᴛʀᴀ́ɢɪᴄᴀ ʜɪsᴛᴏ́ʀɪᴀ ᴅᴇ Eʀɪᴄ Dʀᴀᴠᴇɴ

OMV (obras que marcaram a minha vida) é um novo projeto de blogs que quero iniciar para convidar vocês a conhecerem as obras que me marcaram. Para começar este projeto com chave de ouro, quero apresentar a vocês o quadrinho:

𝕺 𝕮𝖔𝖗𝖛𝖔

𝙾 𝚂𝙴𝚁 𝙱𝙴𝙻𝙾

Diante de uma neve, um ser de beleza de alto porte. Silvos mortais e círculos de música surda fazem com que esse corpo adorado suba, se estenda e trema como um espectro; feridas escarlates e negras rebentam nas carnes soberbas. As cores próprias da vida escurecem, dançam e se desprendem em torno da visão, no estaleiro. E os frêmitos sobem e ribombam, e o sabor furioso desses efeitos carregando-se dos silvos mortais e das roucas músicas que o mundo, longe atrás de nós, lança sobre nossa mãe de beleza, ela recua, levanta-se. Oh! Um novo corpo amoroso reveste nossos ossos.

...

Oh, a face cor de cinza, o escudo de crina, os braços de cristal! O canhão sobre o qual devo cair na peleja das árvores com o ar leve!

                                                                     A. Rimbaud

O Mistério

Lançado em 1989, O Corvo é um quadrinho que nos apresenta Eric Draven, o qual volta dos mortos misteriosamente. O quadrinho evidencia tal ser como apenas um homem amargurado com imortalidade e uma lista de nomes, cada um sendo de um membro de uma gangue local. Eric os persegue um por um atrás de vingança. O quadrinho nos deixa algumas pistas do que aconteceu com Eric através dos diálogos entre ele e os criminosos, mas isso não é o suficiente para matar nossa curiosidade. Conforme vamos pegando fragmentos de seu ado, o quadrinho apenas aumenta nossa curiosidade em saber o que aconteceu. Mostrando a nós momentos de sua vida ada, a HQ revela sua esposa, Shelly, em momentos de carinho e do dia a dia do casal. O Corvo é um livro cheio de significados que nos traz vários ensinamentos que, ao lermos, levamos para o resto da vida.

:spades: Esse foi apenas um resumo da obra. Caso tenha interesse em ler, pare por aqui, pois a seguir terá spoilers :clubs:

A trᥲgᥱ́dιᥲ

No livro é rapidamente citado o final trágico que Eric e Shelly tiveram, mas não como. O quadrinho faz um equilíbrio perfeito de acontecimentos atuais e flashbacks, até que, em um momento, o flashback segue com uma viagem de carro que o protagonista fazia com sua recém noiva. O carro quebra, e ao descer para arrumá-lo, Eric vê ar ao seu lado um carro barulhento com marginais. O veículo dá meia volta, a fumaça era visível dentro do carro. O pessoal com um sorriso amarelado em seus rostos perguntavam:

– Quer ajuda, amigo?! Eric, com calma, recusa o pedido.

O grupo de marginais composto por cinco membros descem do carro e, em um baixo tom de voz, Eric pede para sua querida trancar o carro.

– Eu acho que ele quer ajuda, pessoal. Um deles falava.

– Se liguem nessa gostosa dentro do carro, pessoal!

– NÃO TOQUEM NELA! Eric gritava enquanto era segurado por um dos monstros.

A porta estava aberta e o que vocês imaginam acontece... Um dos traficantes perdia a paciência e, com a arma grudada na cabeça de Eric, sem piedade dispara um tiro em sua cabeça. Agora caído no chão, por algum milagre, ou maldição, ele permanecia vivo. Eric não conseguia fechar os olhos e apenas via tudo acontecer sem nenhuma capacidade de impedir o que ocorria. Um dos membros daquela gangue estava surpreso com Draven, de seu cabelo saía fumaça de seus fios queimados pela bala e, mesmo assim, continuava vivo vendo tudo aquilo. Shelly se contorcia para sair de tal situação, e também era morta por um tiro. A chuva se inicia...

– Seu filho da puta, você me sujou! Um deles falava.

– Agora é a minha vez. Outro dizia.

– Mano... você é bizarro, ela tá morta!

As últimas lembranças de Eric são de uma luz forte sobre seu rosto, uma voz dizendo estar surpreso com ele permanecer vivo. O homem teve sorte, diferente da mulher da sala ao lado.

– Vamos perder ele!

E, de repente, tudo fica escuro…

ɑ ѵɛʀɗɑɗɛiʀɑ ɦiรtѳʀiɑ

James O'Barr, o escritor da obra, conta que por muito tempo carregou esse peso e finalmente teve forças para contar a verdade. Ele teve sua Shelly e, em um dia, ambos tinham marcado de sair. James no auge de sua adolescência não havia pago seus impostos do carro, e com medo de ser parado pela polícia, pediu para "Shelly" buscar ele em sua casa. No caminho para a casa de O'Barr, "Shelly" tem seu carro atingido por um bêbado e é morta. James foi assombrado por boa parte de sua vida pelo o que ocorreu e se culpava. Durante seus dias no exército, como forma de extravasar tudo que pensava, James pega algumas folhas, um pedaço de carvão e cria O Corvo.

รIGɳIԲICɑɗѳร

Durante todo o quadrinho, Eric é acompanhado de um corvo, o qual a maior parte do tempo fala para ele: "Não olhe, Eric". O pássaro fala isso durante todos os flashbacks, principalmente no da tragédia. O corvo é a representação do mensageiro do mundo terreno e espiritual, ele está ali para ajudar Eric a superar seus traumas e enxergar a verdade. Em alguns momentos também é possível ver Eric fazendo uma viagem de trem, onde, enquanto observa o lado de fora, nota um cavalo em um pasto preso em um arame farpado e se debatendo entre o arame até perder a vida. O cavalo representa Shelly, a incapacidade de Eric fazer algo em meio a situação. Com o final do quadrinho em um diálogo com o corvo, Eric descobre que matar todos aqueles que o fizeram mal não vai mudar seu ado, e que para finalmente descansar, Eric precisava se perdoar. Tendo novamente a visão do cavalo se agonizando novamente em sua frente, Draven pega uma pistola e dispara na cabeça do cavalo. Isso representa o perdão a si mesmo, e Draven aceitando que não seria capaz, de forma alguma, de salvar Shelly.

𝓯𝓲𝓷𝓪𝓵

Nas últimas páginas da HQ, mostra Eric voltando ao seu túmulo que ficava ao lado do de Shelly, dizendo que finalmente poderão ficar juntos, e finaliza mostrando a arma que Eric carregava, nos deixando a mensagem de que o único capaz de tirar sua vida, era o próprio.

Eu sou um erro humano, sou o sofrimento fetal. Eu sou o cromossomo independente. Eu sou a loucura total, absoluta. Eu sou o medo.

O Corvo é uma obra que entrou na minha vida de forma totalmente inesperada, pois vi na livraria, peguei e hoje digo que existem várias versões de mim, uma delas é antes e depois da leitura. O Corvo possui muito mais conteúdo do que citei aqui, não tenham medo de se aprofundar na obra, pulem sem medo e aprecie cada momento lido no quadrinho. Agradeço a todos que leram até aqui, e tenham um ótimo dia.

FIM