Por que é tão difícil se apegar?

‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ៹❀゙󠁿. [₍Ꮤ₎ᥱᥣᥴomᥱ|ndc://-me].    𓄹

‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ⊹ Esᴛᴇ́ᴛɪᴄᴀ ⊹

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"Vivemos tempos líquidos...

Nada foi feito para durar."

Cada vez fica mais perceptível que, na contemporaneidade, as relações afetivas estão se tornando mais instáveis e superficiais. Todavia, você já se perguntou o motivo disso? Eu, como uma pessoa com clara dificuldade para estabelecer vínculos, já fiz esse questionamento algumas vezes. O mais próximo que consegui encontrar de uma explicação para esse fenômeno foi um conceito proposto por um dos sociólogos/filósofos mais influentes da modernidade, chamado Zygmunt Bauman. As reflexões trazidas pelo pensador refletem bem o comportamento do jovem moderno e da sociedade como um todo, comparando o mundo atual com o estado líquido. Se você veio até aqui, seja por identificação ou por mera curiosidade, espero que meu conteúdo tenha alguma utilidade. Agora, vamos entender um pouco melhor os conceitos propostos por Bauman, bem como suas consequências na atualidade.

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Zygmunt Bauman, um sociólogo polonês, tentou explicar a fluidez das relações humanas, desenvolvendo os conceitos de "mundo sólido" e "mundo líquido". O pensador descreveu suas análises em diversos livros autorais, nos quais propôs reflexões acerca da sociedade, dos vínculos afetivos e do mundo globalizado. Tendo como base a perspectiva proposta por Bauman, no ado, que chamaremos de mundo sólido, as instituições — tais como família, trabalho, igreja e qualquer local com normas independentes — desempenhavam um papel fixo. Sob essa conjuntura, tudo era duradouro e, basicamente, pré-estabelecido. Os relacionamentos, por exemplo, tradicionalmente se iniciavam cedo e se estendiam por toda a vida. Em tese, mudanças eram extremamente raras e, geralmente, não tão drásticas. Entretanto, por volta do final do século XX, aproximadamente em 1980, entramos em um período intitulado por Zygmunt como "mundo líquido" ou "modernidade líquida". A nomenclatura utilizada pelo sociólogo está diretamente atrelada ao seu conceito, pois, além de ser totalmente oposto ao mundo sólido, esse período marca uma era na qual as relações afetivas, econômicas e sociais são fluidas, tal como os líquidos. Essa transição foi decorrente, sobretudo, dos avanços de um mundo globalizado, da evolução tecnológica e do consumismo. Se anteriormente as coisas tendiam a permanecer da mesma maneira por muito tempo, agora, na modernidade, tudo é facilmente mutável e substituível. A globalização contribuiu significativamente para tornar o mundo mais conectado e reduzir os tempos de espera estabelecidos anteriormente. Dessa forma, as mudanças tornaram-se bem mais comuns e frequentes. Os impactos disso, no entanto, não ficaram limitados aos meios tecnológicos, afetando também os relacionamentos humanos e a sociedade como um todo: se tudo pode mudar rapidamente, as relações não são exceção. Como consequência, as instituições tradicionais foram enfraquecidas e os laços se tornaram maleáveis, ageiros e instáveis. Da mesma forma que os líquidos podem mudar sua forma dependendo do recipiente no qual são colocados, os vínculos, o trabalho, a doutrina e muitos outros aspectos também não são mais fixos. Como preconizado por Zygmunt Bauman: "Na modernidade líquida, os relacionamentos são como produtos descartáveis".

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Outro conceito descrito pelo sociólogo polonês é o das "relações líquidas" ou "amor líquido". Como o mundo líquido afetou os vínculos afetivos entre os seres humanos? Segundo Bauman, nesse caso, uma das grandes culpadas é a lógica de consumo. Os relacionamentos e, consequentemente, as pessoas aram a ser vistos como produtos, refletindo a influência do consumismo. Sob essa conjuntura, tal como mercadorias, os seres humanos são vistos como facilmente descartáveis e substituíveis. Sendo assim, quando se sente insatisfeito, basta se desfazer. Os laços tornaram-se cada vez mais frágeis, ageiros e incertos. Os relacionamentos deixaram de envolver uma perspectiva coletiva, de forma que as pessoas pensam apenas no individual, sem se preocupar com a outra parte, afinal, ela é instável e substituível. Além disso, Bauman também notou a presença de uma dualidade contraditória. Ao mesmo tempo que as pessoas almejam ser independentes e autossuficientes, sem se apegar emocionalmente a ninguém, elas também temem a solidão, desejando profundamente serem amadas e aceitas, porém, sem ter que lidar com as responsabilidades provenientes de um relacionamento. Por fim, Zygmunt também destaca o papel das redes sociais nesse cenário. As múltiplas possibilidades fornecidas pelas plataformas digitais contribuem para o pensamento de que as relações são facilmente substituíveis. Com base nas próprias palavras do sociólogo: "Relacionamentos duráveis exigem esforço, paciência, renúncia. Tudo que vai contra a lógica de consumo". Apesar disso, os apontamentos feitos por Zygmunt em relação ao amor líquido não são necessariamente críticas, mas sim reflexões.

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As consequências são múltiplas e severas, além de facilmente visíveis na contemporaneidade. Primeiramente, claro, os vínculos afetivos estão se tornando cada vez mais fajutos. É quase como se as pessoas estivessem perdendo a capacidade de amar verdadeiramente, tornando-se adeptas a relacionamentos rasos e temporários. As pessoas que escapam do "amor líquido", ainda assim, sofrem consequências. Isso porque elas acabam desenvolvendo dificuldades para confiar verdadeiramente em alguém e entregar-se emocionalmente, tornando-as, em muitos casos, mais inseguras. Além disso, o fato de a maioria das relações ser temporária dificulta a construção de um ambiente familiar saudável, comprometendo o desenvolvimento de muitos jovens. Outras questões psicológicas podem surgir das relações líquidas, como a sensação de solidão e a ansiedade, pois, já que tudo é tão rápido no mundo globalizado, ter que esperar gera uma ânsia desproporcional. A normalização de relações superficiais é cada vez mais expressiva e visível na sociedade. Uma boa exemplificação — que vi em um vídeo do YouTube — é o conceito de "ficar". O termo, muito usual entre jovens da atualidade, refere-se, basicamente, a ter momentos de afeto com uma pessoa por alguns instantes — dar uns pegas sem compromisso. O mesmo vale para "ficar sério", que refere-se, basicamente, a um relacionamento sem, efetivamente, a presença do compromisso e das responsabilidades envolvidas em um namoro tradicional. Essas são algumas das evidências de que, na modernidade líquida, as relações são vistas como descartáveis, ageiras e rasas, afetando diretamente o desenvolvimento emocional do jovem moderno.

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Antes de concluir esse conteúdo, devo destacar que não sou necessariamente uma opositora do mundo líquido. Não acho que nossas vidas devam permanecer imutáveis do início ao fim. Saber quando realizar uma mudança, seja de hábito, de ideologia ou até de relacionamento, é crucial. Contudo, diferente do que vemos com abundância na atualidade, essas escolhas precisam ser racionais e fundamentadas. As pessoas estão perdendo a capacidade de estabelecerem laços duradouros e verdadeiros por medo de se apegar. As relações envolvem um esforço mútuo para prosperarem, no entanto, essa perspectiva foca apenas nas necessidades e caprichos individuais, desconsiderando completamente os sentimentos da outra parte envolvida. Se esse cenário não mudar, perderemos uma de nossas habilidades mais belas e essenciais: a de amar.

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